Estudos Históricos e Políticos

D. Pedro, a encabeçar a reação contra as Cortes em prol da emancipação política do país, trazia elementos de força sem par: autoridade legal, herança presuntiva da monarquia, graduação mais alta do que a dos generais portugueses. Da aceitação ostensiva do encargo de dirigir a onda libertadora decorria concentrar em torno de si a todos os brasileiros ansiosos por não retrocederem à fase colonial, desanimando a todos os partidários da metrópole, pois em todos eles era noção corrente a resposta de Madeira de Melo, na Bahia, a Vasconcellos Drumond — é negócio entre pai e filho. Seria de antemão vitorioso o partido que o príncipe abraçasse na luta imininente. Foi, portanto, o elemento decisivo, e, sem dúvida, é o herói do livro de Tobias Monteiro.

José Bonifacio, chamado ao Rio, veio encontrar o movimento emancipador já iniciado. Não foi seu criador. Sua valia, indisputável, está em ter organizado e dado feitio mais concentrado e percuciente a esforços e boas vontades, algo caóticas.

Por que se manifestou desde cedo a tendência a inverter os papéis e fazer de d. Pedro a ordenança do grande Paulista? Ainda é fruto da impopularidade e da desconfiança despertadas pelo soberano, desde a dissolução da Constituinte. Ficou sendo o português, o restaurador, o absolutista ou o corcunda. E uma das manifestações do desamor e da ingratidão foi diminuir-lhe a eminência da ação e a primazia do papel. Consequência lógica, tendo nascido com o injustificado preconício andradino passou a ter por origem São Paulo. Após o livro que analisamos, não mais parece possível sustentar semelhante tese, pois a evidência é ampla, completa, plena de que o berço da Independência foi o Rio de Janeiro.

Aos adversários do primeiro imperador, por oposição sistemática, se deve a deturpação da verdade histórica.

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