Tratado descritivo do Brasil em 1587

Salvador, nome que lhe S. A. mandou por; e lhe deu por armas uma pomba branca em campo verde, com um rolo à roda branco, com letras de ouro que dizem Sic illa ad Arcam reversa est , e a pomba tem três folhas de oliva no bico; onde lhe foi dada posse da governança por Thomé de Sousa, que se logo embarcou na dita armada e se veio para o reino, onde serviu a El-Rei D. João e a seu neto El-Rei D. Sebastião, de veador e no mesmo cargo serviu depois à Rainha D. Catarina enquanto viveu.

E tornando a D. Duarte, como tomou a posse da governança, trabalhou quanto foi possível, por fortificar e defender esta cidade do gentio que em seu tempo se alevantou e cometeu grandes insultos, os quais ele emendou dissimulando alguns com muita prudência, e castigando outros com armas, fazendo-lhe crua guerra, a qual caudilhava seu filho D. Alvaro da Costa que nestes trabalhos o acompanhou, e se mostrou neles muito valoroso capitão.

Em todo o tempo que D. Duarte governou o Brasil, foi todos os anos favorecido e ajudado com armadas que do reino lhe mandavam, e em que lhe foram muitos moradores e gente forçada com todo o necessário, ao qual sucedeu Mem de Sá, em cujos feitos já tocamos, o qual foi também governar este Estado por mandado d'El-Rei D. João o III, a quem a fortuna favoreceu de feição em 14 anos, que foi governador do Brasil, que subjugou e desbaratou todo o gentio tupinambá da comarca da Bahia e a todo o mais até o Rio de Janeiro, de cujos feitos se pode fazer um notável tratado; o qual Mem de Sá foi pouco favorecido destes reinos, por lhe falecer logo El-Rei D. João que com tanto fervor trabalhava por acrescentar e engrandecer este seu Estado,