Tratado descritivo do Brasil em 1587

um alto uma sua ermida; a qual barra tem de terra a terra duas léguas, e tanto dista da ponta do Padrão à terra de Taparica como à ponta onde está o curral da Cosme Garção, que é mais saída ao mar. Da banda da ilha tem esta barra uma légua de baixos de pedra, onde o mar anda o mais do tempo em flor. Por entre estes baixos há um canal por onde entram com bonança navios de 40 tonéis, e fica a barra por onde as naus costumam entrar e sair da parte do Padrão, a qual tem uma légua de largo, que toda tem fundo, por onde entram naus da Índia de todo o porte, em o qual espaço não há baixo nenhum. Por esta barra podem entrar as naus de noite e dia com todo o tempo, sem haver de que se guardar, e os pilotos, que sabem bem esta costa, se não podem alcançar esta barra com de dia, e conhecem a terra, quando a veem de mar em fora, marcam-se com a ponta do Padrão, e como ficam a barlavento dela, navegam com a proa ao norte e vão dar consigo no ancoradouro da cidade, onde ficam seguros sobre amarra de todos os ventos, tirado o sudoeste, que, quando venta, ainda que é muito rijo, no inverno, nunca passa a sua tormenta de 24 horas, em as quais se amarram os navios muito bem, e ficam seguros desta tormenta, que de maravilha acontece; em o qual tempo se ajudam os navios uns aos outros, de maneira que não corre perigo, e deste porto da cidade, onde os navios ancoram, à ponta do Padrão pode ser uma légua.