O negro brasileiro 1º v. - Etnologia religiosa

O estudo do sentimento religioso é o melhor caminho para se penetrar na psicologia de um povo. Leva diretamente a esses estratos profundos do inconsciente coletivo, desvendando-nos essa base emocional comum, que é o verdadeiro dínamo das realizações sociais.

O estudioso que, no Brasil, quiser dedicar-se à etnografia religiosa de sua população negra terá inevitavelmente que partir de Nina Rodrigues, cujos trabalhos estão sendo agora revelados ao público, por iniciativa do meu prezado mestre e amigo professor Afranio Peixoto.

Os seus estudos sobre "O animismo fetichista dos negros da Bahia" constituem o marco inicial de tais investigações. O essencial ficou feito. Aquelas observações, profundamente exatas, sobre o fetichismo dos negros baianos, vieram ao encontro das pesquisas congêneres do Coronel A. B. Ellis na África Ocidental, sobre a religião de Ioruba, trabalhos só muito depois conhecidos de Nina Rodrigues, que os cotejou com os seus da Bahia, surpreendendo-se com a quase identidade de resultados.

Mas o estudioso dos nossos dias, seguindo a trilha aberta pelo inimitável mestre baiano, defrontar-se-á com duas tarefas de importância: a) continuar a colher materiais diretos de observação, nos vários Estados do Brasil, cotejando-os com os primitivos; b) reinterpretar esses materiais, com os métodos científicos do seu tempo.

A primeira parte da sua tarefa será de grande alcance. Continuando a recolher esse material de observação, o etnógrafo terá elementos para completar os primeiros dados documentários e, principalmente, acompanhar a evolução e