A expedição do acadêmico G. I. Langsdorff ao Brasil, 1821-1828

Escusa dizer que a ausência de qualquer elemento não pode servir de base, de indicação positiva para elaborar classificações. Mais estranha ainda é uma classificação linguística baseada menos nos idiomas propriamente, do que em indicações etnográficas, além do mais bastante duvidosas, muitas vezes sem corresponderem de todo à realidade.

Semelhante situação se explica, até certo ponto, pelo insuficiente estudo dos idiomas das numerosas tribos indígenas e de modo especial, pela ausência de um método único, verdadeiramente científico, que pudesse servir de base para a classificação. Um dos exemplos mais claros de como são insatisfatórias essas tentativas é o chamado "grupo jê" de que fala o trabalho de G. G. Manizer — constituído essencialmente das tribos menos estudadas.

Na composição do "grupo jê" (Ge, Ges, Zes) se incluem numerosas tribos indígenas da América do Sul, especialmente do Brasil. Apesar do reconhecimento de fato desse grupo, não se encontram organizadas, na americanística, sequer algumas indicações dignas de atenção. Para a criação precisamente deste grupo "linguístico" serviram de base a similitude de particularidades etnográficas e a ausência, acima referida, de tais ou quais elementos, especialmente na esfera da cultura material.

Este fenômeno, por assim dizer estranho, para expressar-nos com brandura, se observa em diversos cientistas. Assim, um dos maiores americanistas contemporâneos, o sábio francês Paul Rivet, no prefácio de uma obra que dedicou à classificação das línguas nativas da América, considerou necessário avisar o leitor: "O trabalho que ora apresento nada mais é que uma relação tanto quanto possível completa das línguas americanas. Nele não se vai encontrar, nem poderia ser de outra forma, qualquer descrição dessas línguas". (6) Nota do Leitor

O "grupo jê" é por ele caracterizado do seguinte modo: "Este grupo, o mais artificialmente criado de todos os grupos sul-americanos, representa o caput mortuum da linguística sul-americana. Sua comprovação minuciosa e completa tem de ser feita em bases realmente científicas". (7) Nota do Leitor