meios de defesa contra os malditos enxames de insetos martirizadores, nem no ar nem na terra. A vida de cada um de nós se tornou pouco alegre. Mal se podiam levar até à boca duas colheradas de favas frias com sebo (nossa única, habitual e diária alimentação), sem engolir também mosquitos, e em água para refrescar a garganta nem era bom pensar. A água do Paraguai, que flui lentamente, estava sobrecarregada de toda a espécie possível de corpos estranhos: barro vermelho, folhagem e raízes apodrecidas, peixes em decomposição e a fétida urina de centenas de jacarés (Crocodilus palpebrosus Guor); estava coberta por uma escuma repugnante, que provocava asco só de olhar, e quase completamente inservível para beber-se. E além disso, a temperatura atmosférica à sombra era comumente de 26° a 29°. A temperatura da água era quase invariavelmente de 24º (14), Nota do Autor dia e noite. Sob esse calor incessante, ao ar livre, com uma sede angustiosa, acossados por nuvens atormentadoras de mosquitos, permanentemente molhados de suor, era-nos impossível obter algo fresco para beber e assim nem se podia pensar em qualquer ocupação intensa e séria. Afinal, após essa viagem perigosa, dura e difícil, que se estendeu por sete meses e oito dias, chegamos em fins de janeiro de 1827 à principal cidade da província de Mato Grosso — Cuiabá, pelo grande rio navegável (15), Nota do Tradutor que tinha o mesmo nome daquela cidade.
Pela relação anexa de material zoológico, a Alta Conferência da Academia de Ciências verá o significativo crescimento que resultará desta viagem para o Gabinete de história natural. Contudo, não deixei sequer um minuto de levar em consideração os desejos de Sua Excelência — nosso ilustre e digno senhor presidente — de tanto quanto possível, enriquecer a coleção de mamíferos, e assim esforcei-me simultaneamente para atender ao pedido de meu respeitável colega senhor Pander, obtendo crânios e esqueletos de animais admiráveis, de modo que o Museu da Academia se adornará com muitos espécimes