Viagem pelo distrito dos diamantes e pelo litoral do Brasil

deixaram de ser pagos nos prazos. Contudo os bilhetes tinham curso no público com um desconto de cerca de 25%; mas em 1817 a junta do tesouro real declarou que não seriam mais recebidos ao par e eles caíram em um descrédito total, o que causou grande celeuma entre os proprietários que dispunham de grande quantidade desses bilhetes. O governo recusou formalmente concorrer ao pagamento da dívida e foi para saldá-la que a administração dos diamantes se viu forçada a diminuir o número de negros distribuídos nos diversos serviços e a reduzir os vencimentos dos empregados, outrora muito mais consideráveis.

Cessando a emissão de vales, as contas dos alugadores de escravos, ao tempo de minha viagem, deviam ser saldadas semestralmente e os pagamentos eram feitos em dinheiro. Quando um comerciante ou um cultivador fornecia víveres, o empregado encarregado de os receber dava-lhe um bônus (lembrança) e segundo os novos regulamentos cada bônus devia ser igualmente pago em dinheiro ao fim de seis meses.

Viu-se que o sistema de administração introduzido no Distrito dos Diamantes, tinha por fim assegurar ao rei a posse exclusiva dessas preciosas pedras. Para isso tudo se achava arranjado com maravilhosa sagacidade; cuidaram-se dos menores detalhes; todas as possibilidades de roubo foram previstas, tendo sido tomadas medidas para desarmar os mais hábeis ladrões. Contentar-me-ei com citar aqui um exemplo. Logo que um negro é acusado de haver furtado um diamante, é preso; fazem-no em seguida engolir três pedras comuns e não lhe restituem a liberdade senão depois de evacuadas as três pedras, sem que nenhum diamante tenha sido descoberto.

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