Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

sacrifícios, sem qualquer auxílio do governo, haviam eles expulsado estes conquistadores e restituído à coroa a parte norte de seu mais rico domínio. Estavam, portanto, inclinados a ser particularmente invejosos das províncias do Sul, especialmente do Rio, que eles consideravam mais favorecidas que eles. Estavam aborrecidos com os pagamentos das taxas e contribuições, das quais nunca se haviam beneficiado e que só serviam para enriquecer os favoritos da Corte, enquanto grassavam enormes abusos, especialmente no setor judiciário do governo, abusos que eles desanimavam de ver corrigidos jamais. Tais foram as causas provocadoras da insurreição de 1817 em Pernambuco, que ameaçou por muitos meses a paz, senão a segurança do Brasil. O exemplo dos americanos espanhóis teve, sem dúvida, sua importância. Traçou-se um plano regular para se conseguir a independência. Foram convocadas e treinadas tropas, e, assegurado o domínio do Recife, foram começadas fortificações em Alagoas e no Penedo.

Os insurgentes, contudo, haviam provavelmente se enganado quanto ao grau de auxílio e assistência que encontrariam da parte de seus vizinhos. O povo de Serinhaém, logo que se conheceu a notícia da Revolução, isto é, meados de abril, colocou-se no Rio Formosa [Formoso], como uma ameaça a esta região, e as tropas reais, sob o comando do Marechal Joaquim de Melo Cogominho de Lacerda, marcharam imediatamente da Bahia. O chefe pernambucano [Antônio José] Vitoriano [Borges da Fonseca], tendo atacado a Vila de Pedras, recebeu um golpe decisivo de um corpo de realistas, sob

o comando do major [José Egídio] Gordilho [Veloso de Barbuda], que havia seguido à vanguarda por ordem de Lacerda a 21. A 29, Gordilho ocupou este porto, bem como o de Tamandré [Tamandaré], onde não tardou a receber fortes reforços comandados pelo coronel Melo.

Entrementes o chefe pernambucano Domingos José Martins empenhava-se vivamente em agremiar tropas e formar grupos de guerrilhas de modo a molestar as marchas do inimigo. Eram as tropas chefiadas por Cavalcanti [Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque], homem