Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

passa por legítimo Madeira. Como de costume nas cidades coloniais portuguesas, a igreja e o convento estão em lugar de muito destaque. Ao passarmos Porto-Santo e as ilhas Desertas, para ancorar em frente do Funchal, fiquei desapontada com a calma de meus próprios sentimentos, contemplando estas ilhas distantes com tão pequena emoção, como se tivesse passado um cabo do canal. Bem me lembro, quando vi Funchal pela primeira vez, há 12 anos, da viva alegria com que recreava meus olhos sobre a primeira terra estrangeira de que me aproximava, a curiosidade com que queria ver cada pedra e cada árvore da nova terra, que mantinha minha alma numa espécie de febril alegria.

"Doce memória! Conduzida por suave brisa,

Frequentemente, pela corrente do tempo acima, abria minha vela,

Para contemplar as encantadas lembranças das longas horas perdidas,

Abençoadas por sombras mais verdes e flores mais frescas." (Rogers)(*)Nota do Tradutor

Contemplo agora abatida esses mesmos lugares. Não vejo neles mais que simples paisagens interessantes que, exatamente ao pôr do sol, no momento em que ancoramos, estavam especialmente belas. Seriam, por acaso, os poucos anos acrescidos à minha idade os responsáveis pela mudança? Ou devo antes esperar que, pelo fato de ter conhecido terras cujos monumentos eram todos históricos e cujas lembranças eram todas poéticas, apurei meu gosto e minha vista? Uma coisa nunca me cansa: o oceano, quer quando o Onipotente nele se "espelha nas horas de tempestade", quer quando sobre ele deslizam suaves as asas da paz. A sensação de que houvera uma mudança, porém, seja na paisagem, seja em mim, foi tão forte que corri à cabine e procurei um esboço que desenhara em 1809. Comparei-o com a cidade. Cada cume