Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

uma angústia se acrescenta à escravidão: o desejo vão de encontrar um senhor! Vintenas dessas pobres criaturas são vistas em diferentes cantos das ruas com todos os sinais de desespero. E se uma criança tenta arrastar-se por entre eles, em busca de um divertimento infantil, a única simpatia que ele pode provocar é um olhar de piedade. Estarão errados os patriotas? Eles puseram armas nas mãos dos novos negros, enquanto as lembranças da pátria, do navio negreiro e do mercado de escravos lhes estão frescas na memória.

Fui hoje ao mercado, onde há pouca cousa: carne de vaca rara e cara, não há carneiro, poucas aves, escassos porcos, repugnantes, porque são alimentados na rua, onde se atira tudo, e onde eles e os cães são os únicos encarregados da limpeza. O bloqueio é tão estrito que até as verduras dos terrenos particulares dos moradores, a duas milhas das sentinelas, são detidas. Não se encontra leite. O pão com farinha de trigo americana é, pelo menos, duas vezes mais caro que na Inglaterra, e os bolos de mandioca cozidos com leite de coco não estão ao alcance da gente pobre para que possa abastecer-se suficientemente. A lenha está extravagantemente cara, o carvão raro. Os negros fazem as compras, poucos por conta própria, na maior parte por conta dos senhores. O vestuário dos negros livres é igual ao dos portugueses nativos da terra: jaqueta de linho e calças. Nos dias de cerimônia, uma jaqueta de pano e um chapéu de palha compõem tanto um negro como um cavalheiro branco. As mulheres em casa usam uma espécie de camisola que deixa demasiado expostos os seios. Quando saem usam ou uma capa, ou uma manta; esta capa é frequentemente de cores vivas. Também os sapatos, que são o sinal de liberdade, são de todas as cores, menos o preto. Correntes de ouro para o pescoço ou para os braços e brincos, com uma flor no cabelo, completam o vestuário da mulher pernambucana. Os negros novos, tanto homens quanto mulheres, não usam nada senão um pano em torno dos rins. Quando são comprados é costume dar às mulheres uma camisa e uma saia e aos