Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

homens; blusas e saias às mulheres, de algodão branco muito grosso. Cada um, à medida que entrava, beijava a mão do Senhor P. e curvava-se diante dele dizendo: "A bênção, meu pai" ou "Louvados sejam os nomes de Jesus e Maria" e recebia em resposta, respectivamente: "Deus te abençoe" ou "Louvados sejam". Este é o costume nas velhas fazendas: é repetido de manhã e à noite e parece estabelecer uma espécie de parentesco entre o senhor e o escravo. Deve diminuir os males da escravidão quanto a um, a tirania do patrão quanto a outro, reconhecer assim, acima de todos, o Senhor, do qual ambos dependem.

À medida que cada escravo era passado em revista, faziam-se algumas perguntas relativas a ele próprio, sua família, se ele a tinha, e seu trabalho. Cada um recebia uma quantidade de rapé ou tabaco, segundo a preferência. O Senhor P. é uma das poucas pessoas que encontrei a conversar no meio dos escravos, e que parece ter feito deles objeto de atenção racional e humana. Contou-me que os negros crioulos e mulatos são muito superiores em diligência aos portugueses e brasileiros, os quais, por causas não difíceis de serem imaginadas, são, pela maior parte, indolentes e ignorantes. Os negros e mulatos têm fortes motivos para esforçar-se em todos os sentidos e serem, por consequência, bem sucedidos naquilo que empreendem. São os melhores artífices e artistas. A orquestra da ópera é composta, no mínimo, de um terço de mulatos. Toda pintura decorativa, obras de talha e embutidos são feitos por eles; enfim, excelem em todas as artes de engenho mecânico.

À tarde acompanhei o Senhor P. para ver os negros receberem a ração diária de comida. Consistia em farinha, feijão e carne-seca, uma quantidade fixa de cada coisa por pessoa. Um homem pediu duas rações em vista da ausência do vizinho, cuja mulher pedira que lhe fosse enviada sua quota para estar preparada quando ele voltasse.

Algumas perguntas feitas pelo Senhor P. acerca dessa pessoa induziram-me a perguntar sua história. Parece que é ele um mulato remador, o escravo de mais confiança