Mocidade e Exílio (cartas inéditas)

defendê-la) causa pasmo a quem lê seus anais. Aquela centena de homens discutia gravemente os problemas constitucionais, perante um público atento e uma imprensa bulhenta, numa terra onde não havia um único instituto de ensino superior a não ser dois cursos médico-cirúrgicos. Os bacharéis de Coimbra, falavam mais claro, mas o extraordinário era haver eco para seus discursos e discussão acerca dos seus argumentos.

A magistratura imperial, com falta de pessoal habilitado, mal renumerada e sem garantias, inexistentes na constituição de 25 de Março, parece destinada a desagregar-se. No entanto, a figura do magistrado da monarquia passa para as páginas da história, como digna e respeitável. A tradição e o respeito atávico pelas funções da justiça, deram-lhe a segurança que a lei não oferecia.

A confiança no recurso à autoridade superior revela-se em pequenas expressões populares. Oliveira Viana ouviu em pleno Estado do Rio no século XX, um popular, depois de um conflito entre facções locais, exclamar confiante que havia de \"apelar para a Bahia\". É a antiga confiança na sede do governo e da justiça. Vale a expressão nossa, a germânica: \"ainda há juízes em Berlim\". A nossa linguagem familiar está cheia de expressões forenses e tabeliôas. A rabulice e o malsinado \"espírito bacharelesco\" são caricaturas desse nosso profundo sentimento formal e um pouco técnico da justiça.