As forças armadas e o destino histórico nacional

Os políticos e fidalgos que o cercaram, em geral trêfegos, pobres de espírito como ele próprio, sem descortino, sem visão dos acontecimentos que se precipitavam naquela época de renovações sociais e políticas, não estavam à altura das tremendas responsabilidades que pesavam sobre os homens de governo, nem ao menos de servirem de conselheiros do rei. E, se porventura algum existia capaz de salvar a melindrosa situação que Portugal atravessava, não sabia o rei onde o encontrar para entregar-lhe a direção dos negócios públicos. Foi assim D. João como nenhum outro chefe de Estado o joguete dos interesseiros e das camarilhas.

São terminantemente elucidativos os seguintes fatos: Quando Napoleão decretou o bloqueio continental contra a Inglaterra determinou a seu ministro em Lisboa que intimasse o governo português a declarar guerra a essa potência, a fechar seus portos aos navios ingleses, a incorporar seus vasos de guerra à esquadra francesa, a sequestrar as propriedades dos súditos britânicos e a prender os que estivessem em Portugal. O regente nem por palavras reagiu e solicitou a Inglaterra que simulasse guerra a Portugal, proposta recusada peremptoriamente. Mandou então D. João ricos presentes a Napoleão bem como propor-lhe o casamento de D. Pedro com uma filha de Luciano Bonaparte, proposta que foi repelida. O primeiro cônsul decretou logo a deposição da família Bragança do trono português. Abandonado pela Espanha no tratado assinado em Fontainebleau por esta e a França (27/10/1801), D. João resolveu submeter-se àquelas imposições e por decreto de 8 de novembro ordenou a prisão dos súditos britânicos e o sequestro dos bens destes. O governo inglês mandou em represália bloquear os portos