Venceu a nação e salvou-a ainda uma vez da anarquia a disciplina das forças armadas que não se deixaram contaminar pelos exemplos perniciosos da indisciplina governamental.
A arrancada de 1930, como qualquer outra, em qualquer época, em qualquer lugar, trouxe no seu ímpeto e nos seus golpes, numerosos germens de indisciplina que pouco a pouco foram conspurcando os organismos sadios do povo e das classes armadas, com especialidade das que se revoltaram contra o poder civil a que estavam subordinadas.
Formidável e instrutivo paradoxo: Essas forças em revolta para depor a autoridade que se havia indisciplinado, exorbitando o cumprimento do dever, se indisciplinaram por sua vez e começaram a imiscuir-se nos negócios públicos, pondo em xeque a ordem civil da nação. Os fatos são de ontem e quanto mais violentos foram mais cedo se vão apagando da memória dos contemporâneos que os relegaram para o rol das coisas sem importância, despercebidos hoje porque nenhum traço vigoroso deixaram das suas frágeis linhas que nada delinearam de construtivo e duradouro. Os "Três de outubro" quiseram ditar leis ao país e à imprensa predispostos os seus associados a imporem a sua vontade discricionária à nação, que deveria obedecer aos seus salvadores. Os interventores em geral improvisaram-se do dia para a noite hábeis administradores, geniais estadistas, insígnes patriotas, capazes de salvar o mundo. Generais de verdade e de mentira se misturaram aos tenentes para a feitura de um Brasil dos seus sonhos, assim uma coisa grandiosa que saísse dos seus cérebros privilegiados, embora ninguém a compreendesse, nem eles próprios.
Nesse pandemônio de homens e ideias o que havia de notável era o "deserto de homens e ideias" do Senhor Oswaldo Aranha.