À Margem do Amazonas

ilimitadas que eram o sonho alucinante daquela gente.

Nunca lhe reconheceram o heroísmo, a temeridade, o comovente suplício da desgraçada profissão. Nômade, errante, abandonado, caminhando o dia inteiro, dormindo à noite nas sapopemas ou nos taperys, rompendo igapós, tabocais, balseiros, roto, sujo, ferido de espinhos, pontilhado na epiderme pelas picadas dos piúns, dos carapanãs, das mutucas, — na sua faina silenciosa de sacrificado, só temia o índio; o índio que é ainda o seu semelhante e seu antepassado, mas que não lhe perdôa a subserviência, o declínio moral, a amizade ao Caryua que o persegue e o destrói.

Foi entre esses elementos que o ameaçavam todos os dias — as feras, os pântanos, os insetos, o índio, que o caboclo entregou aos seringueiros as fortunas, as posses, os domínios, que os fizeram, numa triste caricatura da Idade Média, novos senhores feudais do vale amazônico, aos primeiros clarões do século vinte.

E em troca dessa enorme riqueza ele, o grande martir da feroz invasão, o desbravador