À Margem do Amazonas

O JACARÉ

Covarde, perverso, traiçoeiro, rastejando na lama negra do tijuco, varando igapós sombreados, escondendo-se na trama cerrada dos matupás e nas moitas de canaranas e murys, arrastando-se pelos furos, rondando dia e noite os tabuleiros das tartarugas, dormindo ou cochilando pelos barrancos, cortando vagarosamente as águas dos igarapés ou dos lagos — o jacaré (caiman niger; caiman scleropis) vive em toda a planície, desde a embocadura do Rei dos rios às vertentes andinas, talvez até no majestoso Telhado do Mundo, no Pico de Vilcanota, nesse pobre fio d'água onde nasce, como o mais humilde dos regatos, o maior dos rios da terra.

Quem o vê estirado entre as relvas, ou singrando na correnteza, ou vagando de leve na luzidia quietude dos lagos e paranás, lerdo,