Foi assim que escreveu numerosas conferências sobre ensino, como palavras de ordem da sua atuação à frente de várias instituições escolares no Acre e em Alagoas. Em Maceió foi, por muito tempo, diretor de Grupo Escolar e diretor da Revista de Ensino, órgão da Diretoria da Instrução Pública, numa época em que os problemas educacionais tiveram no Estado uma fase de verdadeiro renascimento. E nessa qualidade encheu a Revista de uma colaboração suculenta sobre matéria pedagógica e mesmo didática, ou ainda sobre aspectos sociais da escola, como se fosse o pedagogo experimentado e chapado nos trabalhos da profissão.
O segredo desse milagre estava em que de jamais escreveu de oitiva. Escreveu coisas tão interessantes, novas, oportunas e adequadas à orientação pedagógica, que ninguém suspeitaria um leigo encascado no autor de tais ensaios. E cousa para escandalizar, neste país da improvisação, e principalmente em matéria de ensino, em que todo o mundo é técnico: ele jamais ensinou nada.
A Academia de Ciências Comerciais de Alagoas nomeou-o um dia professor de Legislação de Fazenda, ele que havia sido diretor da Recebedoria do Estado e era, no momento, Contador Geral do Tesouro: recusou formalmente a cadeira. Se fosse para escrever, em silêncio, no seu gabinete, um tratado sobre o programa da matéria, era com ele; mas, para dizer na frente de 50 ou 100 rapazes aquela "impostura de ciência", não o faria nunca.
Eça de Queiroz glosou o gesto de Emilio Bouiroux que recusou a pasta de Ministro das Colônias, por não serem as Colônias a sua especialidade. Na França vá lá! Mas no Brasil, país de pedantes e de sábios em tudo, a recusa de Craveiro Costa seria pura manifestação de burrice ou o vezo insano do cabotinismo "pour épater te bourgeois", se os seus amigos não soubessem que a sua inteligência era como o olho dos gatos: preferia a sombra para brilhar melhor.