Com essa probidade intelectual, se dispusesse de ambiente convidativo, Craveiro Costa teria deixado uma bagagem literária das mais edificantes, em contraste com a imensa futilidade da nossa literatura.
Já não digo dos nossos poetas, porque a força dites é mesmo a futilidade; quando a poesia se aprofunda, corre o risco de degenerar no "Eu" ou na "Visão dos Tempos".
Mas as nossas obras de cultura à margem as bibliotecas de iniciação científica, de caráter pitoresco e, às vezes, seco e árido, como discurso acadêmico, deixam nas estantes sérias muito lugar disponível.
Craveiro Costa foi essencialmente jornalista; e as suas letras, quando alçavam o colo num assunto menos fácil, não procuravam outro estilo para deixarem a impressão de que estava falando o doutor.
Ele não era doutor. Tinha, porém, uma inteligência privilegiada. Os assuntos mais intratáveis ganhavam nas suas mãos uma dutilidade de azougue. A história, a geografia e a estatística eram as suas musas.
Mas não as servia de turibulo na mão nem com a lira entre os dedos ou a paleta de todas as cores deslumbrantes.
Servia-as de camartelo em punho, como estatuário; mas eram tão doces os traços do seu mármore, que um artigo seu sobre mamona ou milho nos dava vontade de virar Cincinato.
— Se tu soubesses que belos frutos do meu pomar, não me falavas em Consulado.
À história, principalmente, dedicava Craveiro Costa as preferências do seu espírito, porque não era pelos caminhos de todo o mundo que ele andava para chegar até onde estava a velha mestra da vida.