quando tínhamos à mão um elemento de primeira ordem, o príncipe D. Pedro, jovem, impulsivo e ambicioso de glórias, inteligentemente atraído à causa brasileira, esposando-a entusiasticamente, em desobediência formal às Cortes e ao próprio pai. Desprezar esse elemento, por si só uma segurança de êxito, escorraçá-lo do nosso convívio e da nossa confiança, para atirar o Brasil, desarmado, à aventura de uma guerra, seria puro quixotismo.
Nenhuma das colônias espanholas dispôs de um fator como este.
Na capitania de Pernambuco, não se nega, laborava o fogo de palha do despeito dos naturais contra o predomínio lusitano. O ressentimento era justíssimo e secular, não tanto pela supremacia da riqueza e da autoridade, antes pelo ostensivo e irritante desprezo do português pela mestiçagem brasileira, esquecido o reinol de que "mal cabia o preconceito com relação à pregênie, quando não tinha servido para refrear os amores dos conquistadores".
Duzentos anos antes, esse ressentimento do natural, então muitíssimo mais intenso e separador, porque eram maiores as causas que o determinavam, impelira o mulato Calabar à sua patriótica deserção.
Em 1817, a metrópole já havia abrandado os rigores da administração e o preconceito português declinara consideravelmente. A presença do rei no Brasil, a elevação da colônia à categoria de reino, equiparando-a politicamente a Portugal, e as vantagens inegáveis decorrentes dessa situação, haviam mudado radicalmente o aspecto odioso dos fatos, na