O livro de Leithold vem largamente citado pelos autores que se ocuparam do reinado de D. João VI, a começar por Oliveira Lima, como depoimento substancial e panorâmico sobre a cidade, ao passo que o de Rango permaneceu desconhecido e só pelo título vem referido nas bibliografias especializadas. São dois livros raros, não se conhecendo no Brasil mais que meia dúzia de exemplares de cada um em bibliotecas públicas e particulares. Impunha-se, pois, publicá-los em tradução e geminados como nasceram, ao celebrar o Rio de Janeiro seu IV Centenário.
O paralelismo é tanto mais digno de registro quanto, personalidades tão diferentes como são as de seus autores, as observações de um valem de contraprova às do outro, ao enfocarem os mesmos assuntos.
O estilo terso, afirmativo, do tio, sem nuances nem temor a repetições — militar em suma, como ele próprio o definiu — contrapõe-se também ao prosador elegante, cujo lirismo inflamado vem à tona a cada pretexto em versos de cadência schilleriana ou se exalta em arroubos patrióticos.
Racistas ambos, sobretudo o jovem, que se revela um precursor do liberalismo alemão, a sonhar com a liberdade e o erguimento ele uma pátria grande, recém-emergindo da dominação napoleônica, não tolerava a ideia da expatriação quando a tarefa da recuperação estava a exigir o esforço de todos os \"irmãos alemães\". Desaprovaria, pois, a deliberação do tio e dessa divergência de vistas procederá, quiçá, a desinteligência que se adivinha entre os dois, ignorando-se mutuamente e levando o sobrinho a regressar por outro navio, quando o que tomaram de volta, tio e prima, devia largar no mesmo dia.
Não obstante, coincidem um e outro no horror à escravidão, ao calor e aos mosquitos e, como Leithold logo se desgostou com o país de seus sonhos, também se identificam no considerarem o Brasil impróprio para receber emigrantes alemães. Por sinal, não compreenderam ambos o caráter paternalista da coroa portuguesa, tão manifesto no ritual do beija-mão.
A insegurança de Leithold na nomenclatura de pessoas e toponímica confirma o que declara no prefácio: não ter tido a ideia de publicar as notas que ia tomando despreocupadamente; mas fosse como passatempo durante as calmarias da travessia, fosse como justificativa do malogro ante seus protetores,