ampliou-as em livro, dando-lhes um objetivo utilitário e oportuno de esclarecimento da opinião sobre o problema da emigração para o Brasil, agitado em Hamburgo desde 1818. Rebate então os pareceres favoráveis de Eschsvege e Langsdorff, antecipando-se negativamente à propaganda oficial do futuro Império, da qual fora incumbido o bávaro Schaffer protegido da princesa Leopoldina.
Desse ponto de vista, explica-se em parte a nenhuma simpatia com que encarou o ambiente, ao contrário de quem, como o reverendo Walsh, descreve o Rio sem propósito preconcebido; faltando-lhe também, comparado a Luccock, o trato prolongado que o comerciante inglês desenvolveu numa residência de dez anos.
Graças ao cunhado e com o apoio da legação prussiana, teve Leithold abertas as portas do corpo diplomático. Recebido mais de uma vez pelo rei, só não logrou seu objetivo por não tolerar o calor, os mosquitos e o isolamento espiritual. Entendido e amador da boa música — seu capítulo sobre os castrati da Capela Real e sobre a ópera italiana é seguramente o melhor —, também estranhou o desconforto e a pouca vida social, embora convidado a jantares e bailes no círculo estrangeiro, revelando-se observador curioso do luxo, sobretudo feminino, e até da vida galante, a que dedicou todo um capítulo.
Descontando-se o que há de preconceito, seu trabalho pode ser considerado um guia informativo, com indicação de preços e conselhos práticos, para uso dos forasteiros, só lhe faltando os pertinentes mapas de ruas e da Guanabara que valorizam o livro do mesmo tipo de outro alemão (báltico): Rio de Janeiro und seine Ungebungen in Briefen eines Rigaers, descritivo da cidade nos primórdios da Independência.
O depoimento de Leithold sobre o general Hogendorp, por exemplo, é o mais objetivo de quantos apareceram — e não foi pouco o que se publicou no tempo sobre o fiel sequaz de Napoleão — sendo também dos que soube fazer justiça a D. João VI. Não é apenas por deferência inata para com a realeza que sua pena amargurada se revela cortesã. A inclusão do memorial (aí traduzido e publicado pela primeira e única vez) do marquês de Loulé, como prova da magnanimidade real, obedeceria inconscientemente à solidariedade que lhe inspirou a carreira militar, igualmente infeliz, deste outro veterano da campanha da Rússia.