O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em 1819

Prefácio

O número de ofuscados que, por considerações diversas, abandonam a pátria, para se atirarem aos braços de uma zona exótica, sobre a qual formaram noção de todo errada, aumenta diariamente, ocasionando a desgraça de muita família honrada.

Atrás da fama e de ocupação, jovens destroem sua felicidade interior quando pretendem em vão arrancar da novidade o que lhes nega a rotina caseira e, ao voltarem, deprimidos e decepcionados, após penosa e longa ausência, à pátria desprezada, não redescobrem a felicidade que eles largaram, já que tudo está mudado e se lhes tornou estranho em casa.

Outras consequências ainda mais sérias decorrem, para nossa pátria alemã, da ilusória descrição de um país que ainda se acha em projeto e no mais baixo estágio de cultura, e onde a humanidade está sendo calcada aos pés.

Que é que no mundo deve mais importar ao homem senão a humanidade? Que mais poderá estimulá-lo senão o seu aperfeiçoamento?

O Brasil um paraíso!!! Terrível imagem de um paraíso na terra. Inocência e liberdade, qualidades precípuas de um natural paradisíaco, debalde vos acharão naquele tão louvado país!

Entre todos os estrangeiros com quem falei durante minha estada no Brasil, poucos não partilham de minhas vistas sobre o país, poucos não suspiram pelo momento de sua liberação, para, de joelhos, implorarem aos penates o perdão de sua culpa; poucos, em suma, encontraram o que buscavam, excetuados talvez, os que foram à caça de borboletas e vermes, pois vermes os há em abundância.