Com a inteireza de sua juventude e os antolhos de um exacerbado nacionalismo, Rango estava ainda menos apto a apreciar o meio e saiu deliberadamente a público com o objetivo de tudo denegrir para melhor servir ao seu proselitismo. Tratando-se de uma série quase hebdomadária de cartas ao mesmo extremado amigo, escritas no espaço de onze meses, sete dos quais passados no mar, metade do texto está recheado quase unicamente de dados náuticos e astronômicos que, se completam a narrativa de Leithold, não interessam ao propósito desta reedição e foram por isso omitidos. Entre os capítulos assim enxertados há um, contudo, interessante: a maneira de comerciar da praça do Rio de Janeiro, parte do material coligido pelo autor para um trabalho histórico-estatístico que se propunha agregar ao seu Diário e que não apareceu, talvez por falta de editor.
Já a primeira parte, que saíra à sua custa em Bruxelas, tendo sido posta à venda em comissão por um livreiro de Leipzig (1821), reapareceu em 1832, com nova folha de rosto, em Ronneburg (Turingia) — o mesmo recheio, as mesmas estampas (uma mostrando o navio \"Sophie\" e outras duas de peixes, desenhadas por Rango) — devido, naturalmente ao encalhe da primeira tiragem. Tentava novamente a sorte, pois seu renome literário, como autor de vários trabalhos históricos e dramáticos, poderia assegurar-lhe maior saída.
É no prefácio e na conclusão que o poeta e teatrólogo extravasa o seu nacionalismo em imprecações à liberdade e às virtudes cívicas alemãs, tiradas que a era nazista voltaria a pôr de moda. Para melhor compreendê-las, não há que esquecer que as várias unidades germânicas haviam sido duramente humilhadas e mutiladas pelo despotismo de Napoleão, começando a sublevarem-se os patriotas desde 1809.
Se, de modo geral, as cartas sobre o Brasil não passam de rápidos flagrantes, alguns traços são saborosos e bem apanhados; assim o beija-mão em São Cristóvão, umas exéquias militares na igreja de São Francisco de Paula. Igualmente lê-se com prazer a descrição do cenário paisagístico numa excursão a Cabo Frio.
Pensa-se logo na obra de outro jovem, também artista, pois Rango na França chegou a pintar retratos para ganhar a vida, cuja estada no Rio é do mesmo ano e duração, o tenente Chamberlain: a do prussiano, filosófica e literária, podendo-se