desespero ou temor, viraram as costas à sua terra; inutilmente recordar-me-ão que até nos vizinhos Países Baixos, ainda no século dezesseis, atingiu a 120 mil o número de emigrados à cega vingança do espanhol fanático, à espada verduga de um Alba implacável; emigração de que até príncipes de sangue participaram: repetirei, não obstante, minha convicção e tratarei de lhe permanecer sempre fiel. Não importa que toda o alegado dificilmente contradiga minha tese, que estes exemplos nada tenham que ver com o que eu chamo de emigração e de degradante naturalização em país estrangeiro, uma coisa está suficientemente comprovada: não é certo tudo o que fazem as massas, nem tudo o que parece certo, ou seja mesmo certo, pode ser qualificado de grande ou nobre.
Contudo, minha intenção não foi escrever um capítulo sobre o tema: "Quando pode um homem virtuoso legitimamente abandonar seu país e deixar-se naturalizar em outro"; pois isto me levaria, zeloso defensor que sou de minhas ideias, longe demais e trar-me-ia o ódio dos grosser Herren(2), Nota do Tradutor que de nenhum modo estão dispostos ou habituados a ouvir a verdade de quem lhes está tão abaixo (será mesmo tão de temer o ódio desses grosser Herren?). Não, minha intenção é apenas prestar um serviço com minha franca opinião, apoiar com argumentos e deter por todos os meios os pobres ofuscados da prática de uma tal loucura, de que tarde ou cedo se arrependerão. Chame, quem quiser, de fantasma o amor pátrio, de quimera a ânsia pela liberdade; estas são virtudes que brilharão eternamente no firmamento da imortalidade.
Com infinita felicidade voltei de novo a pisar, após uma ausência de treze longas luas, o sagrado solo alemão; indescrítivel foi a sensação que me assaltou, tanto mais viva por voltar a sentir a graça celestial de ser alemão.
VON RANGO.
NOTA — Circunstâncias diversas levaram o autor a imprimir estas páginas em Bruxelas, onde, por falta de letras alemãs, não pode ser evitado o desagrado de servir-nos de estranhas.
O EDITOR.