Primeira carta
Berlim, 15 de junho de 1819
Finalmente, caro Egmont, vejo a ponto de realizar-se meu tão suspirado desejo. Sedutora miragem, que me persegue há doze longos anos, clamava, cada vez com maior veemência, estas palavras de fogo: "Segue-me, precipita-te nos braços de uma mãe amorosa, para entregar-te ao sacrossanto deleite do reencontro de que tanto tempo estiveste privado!"
Doze memoráveis anos são passados desde que disse meu último adeus à querida mãe, o peito todo amor, o coração partido; desde que, pela primeira vez, senti e suportei, em sua magna intensidade, a dor da separação.
Com efeito, Egmont, nada tem de ligeira a dor da separação. Nunca a sentiste no mesmo grau. Contudo, algo de indefinível plana sobre sua sublime paciência, expressão segura do que há de divino em nosso ser humano, a prova mais real da nossa natureza divina.
Maior e mais forte para grandes ações sente-se o homem em momentos desses, que deixam a marca eternamente, no livro perene da imortalidade, de nossos impulsos vitais os mais intensos, arrancando-os do esquecimento.
Daquele instante da separação, precedida de amarga intuição, nunca mais vi desaparecer a lua sem esperar que, terminados os estudos, iria saudar finalmente minha adorada mãe, mais homem e mais feliz. Eis que, como se tocado por vara de condão, lá em começos do sétimo mês, uma carta me gritava estas duras palavras:
"Nossa mãe seguiu o marido para o Rio de Janeiro(1). Nota do Tradutor Consola-te! Ela cumpriu o seu dever."
Teu irmão sempre carinhoso, Wilhelm.