habitual do monarca, em São Cristóvão, a duas horas da cidade; não se pode, pois esperar que alguém, fatigado após um dia de calor, vá a pé por ruas empoeiradas, de sapatos rasos e meias. E, no entanto, sei que o Doutor Ritter, nosso compatriota, o fez uma boa dúzia de vezes, mesmo sob mau tempo, para, ajoelhado e beijando a mão do rei, suplicar-lhe um lugar. Quem poderá ou ousará levá-lo a mal? Não tem ele que fazer o impossível por si e pela família que o seguiu fielmente, já que, com a venda de porcelana e demais mercadorias, saiu-se pessimamente? Pobre homem, compadeço-me dele sinceramente! É duro, com efeito, largar a pátria, onde não lhe faltavam possibilidades, para se ver terrivelmente desiludido ao fins de longa e infeliz viagem.
Que este exemplo de emigração fracassada por falsas noções seja conhecido dos que tenham a malfadada ideia de abandonar sua pátria alemã, na ilusão de que em outro lugar serão mais felizes ou ficarão mais ricos.
Agora, meu amigo, vou passear pela baía, para que os atrativos da natureza me façam esquecer as tristes imagens que me perseguem desde que aqui cheguei.
O calor foi tão forte durante o dia que o passei numa espécie de aturdimento. A noite é um pouco melhor; mas não me foi dado gozar de um dia só que se pudesse dizer fresco. Vivo a transpirar e não conheço mais a satisfação de respirar uma aragem realmente reconfortante. De dia aborrecem-me os homens e, à noite, não me deixam em paz os mosquitos, ratos e camundongos. Poucas casas aqui estão livres destas pragas.
Até amanhã se Deus quiser, com mais do teu amigo sandoso,
L.
Vigésima carta
Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1819.
Há quinze dias venha reunindo tudo o que diz respeito à história e geografia do Brasil, para, enquanto ficar aqui e no meu regresso, começar um trabalho que espero apresentar-te quando voltarmos a nos ver. Já consegui dados importantes e