no Rio Elba, em frente ao qual estão sempre a passar os navios e barcos que chegam e saem. Ainda, numa rápida descrição da cidade, não devem ser esquecidos os muros de Hamburgo, porque constituem um de seus atrativos para os viajantes.
Em Hamburgo tudo é caro e por isso chamam-na de pequena Londres. Há muita gente rica, mas não serão tantos os felizes, pois tudo aqui gira em torno do dinheiro, como em toda cidade comercial em que o negociante é quem dá o tom. O forasteiro poderá ser amavelmente recebido se vier recomendado, mas não sendo comerciante, ninguém dele se ocupa e poderá morrer de fome sem que se levante uma voz em seu auxílio. A este espírito comercial se junta certa arrogância de que eu mesmo tive um exemplo. Entre as cartas de apresentação trazidas de Berlim, duas eram para um comerciante de consideração, longinquamente aparentado comigo. Devido ao infeliz acidente que não me permitiu entregá-las pessoalmente, fi-lo saber por meio de um bilhete do meu estado e pedi a sua visita. O orgulhoso Herr N. N. apareceu e, vendo-me de cama, num hotel ele segunda classe, em quarto pequeno e bem modesta, olhou em torno com espanto e perguntou-me, após seco cumprimento: "O senhor é mesmo irmão da Senhora fulana ?" Respondi-lhe laconicamente que sim. Deitou ele mais um olhar surpreendido, lamentou pro forma meu acidente e excusou-se logo sob o pretexto de negócios que o chamavam à Bolsa. Depois dessa visita não mais apareceu nem voltou a pedir notícias minhas; e, como este, vim a saber de outros casos. Nessa oportunidade, porém, fui largamente compensado pela bondade do cônsul-geral da Prússia, que eu nem conhecia.
Em Hamburgo o estrangeiro deve logo procurar quartos mobiliados, que custam por mês dois terços menos que os quartos de hotel. Logo que o pé me permitiu, fiz-me transportar para um daqueles, que são realmente baratos e bem mobiliados. Meu senhorio era o pintor Mittelstein, pessoa das mais respeitáveis, que aluga diversos quartos no Ellern Thorbrücke. Recomendo a todos, seu estabelecimento. Quando do meu regresso do Rio de Janeiro, estando os quartos todos ocupados, mudou-se para um quartinho do sótão, cedendo-me o seu, porque eu e minha filha não quisemos ir para um hotel.
Durante minha permanência em Hamburgo, infelizes vinham visitar-me quase diariamente querendo que os levasse