Em fins do século XVIII e princípios do XIX numerosas expedições e viajantes isolados visitaram a América do Sul. Na maioria dos casos, tratava-se ou de missionários ou de comerciantes, mas havia também entre eles alguns sábios naturalistas. A primeira metade do século XIX caracterizou-se pela pesquisa, cujo objetivo era o estudo da geologia, da flora e da fauna continentais. Esta circunstância se explica pelo fato de que os países colonizadores viam a América do Sul somente como fonte de valiosas espécies de matérias-primas. Todas essas expedições no século XVIII, bem como na primeira e, em parte, na segunda metade do século XIX, foram organizadas com a finalidade de apropriação das riquezas do Continente e, naturalmente, o que menos as preocupava era o estudo etnográfico da população autóctone — os índios.
Não tendo, embora, tarefas especiais na esfera da etnografia, elas não podiam deixar de prestar atenção às tribos indígenas que deparavam em seu caminho e com as quais se surpreendiam, em face de seu aspecto exterior e de seu estranho modo de vida "selvagem".
É perfeitamente compreensível, pois, que nas descrições dos viajantes e em trabalhos especiais, cuja temática nada tem a ver com a etnografia, figure material etnográfico que tem para nós grande interesse (por exemplo, os trabalhos de Hartt, Eschwege e outros).
Diferentemente delas, a expedição russa de G. I. Langsdorff tinha um caráter muito especial: além do estudo da flora e da fauna, dedicava particular atenção aos idiomas e à etnografia dos indígenas do Brasil.
G. I. Langsdorff preparou-se meticulosamente para a visita aos índios. No arquivo da Academia de Ciências da URSS encontram-se numerosas notas suas pedindo literatura e material dos arquivos brasileiros. Estudou os idiomas das tribos que se aprestava a visitar, de modo a ter possibilidades de contato direto com elas. Achando-se já gravemente enfermo, escreveu em seu diário: "Dei lição de [língua] apiacá. Senti-me bem de uma hora às duas, quando sofri novo acesso de tremores febris, que continuaram até à noite". (4) Nota do Leitor