era suficiente a ninguém que quisesse utilizá-lo com bastante proveito".
Depois de breve estada em Falmouth e nas Ilhas Canárias, o "Nadiejda" e o "Nieva" se demoraram de 20 de dezembro de 1803 a 4 de fevereiro de 1804 no litoral da ilha de Santa Catarina. Isso possibilitou a Langsdorff dedicar-se atentamente à caça de mariposas e realizar frequentes excursões à beira de florestas. O conhecimento da língua portuguesa permitiu-lhe, em um mês e pouco, não só fartar-se de admirar as riquezas naturais, o canto de pássaros desconhecidos e o aspecto de plantas e animais igualmente desconhecidos, como também conhecer de perto a população e seus hábitos que, em muitos pontos, o surpreenderam pela diferença em relação aos hábitos da metrópole (nesse tempo o Brasil ainda era colônia de Portugal). "A limpeza é um traço que distingue os habitantes locais, e em seu favor, dos portugueses, em geral mais sujos. Os soldados, camponeses e a gente mais pobre conservam grande limpeza não só em suas roupas brancas, finas e boas, como também em todos os usos domésticos". Ele nota ainda o hábito singular de lavar diariamente as pernas em água morna antes de ir dormir, e de tomar mate¹. [1- ver capítulo Comentários do Redator] Com particular interesse, Langsdorff aponta o destino dos negros escravos, cuja dança africana ele teve ensejo de observar durante a festividade de Ano Novo. O mercado de escravos em Nossa Senhora do Desterro causou-lhe forte emoção, "Fui possuído por um sentimento inteiramente novo de indignação, quando pela primeira vez cheguei a Nossa Senhora do Desterro e vi aquela massa de criaturas humanas afastadas de sua pátria, desamparadas, desnudas até a cintura, e expostas para venda nas encruzilhadas".² [2- ver capítulo Comentários do Redator] Quanto aos indígenas, ele obteve apenas informações verbais. Disseram-lhe que os habitantes de uma colônia situada bem no interior da província de Santa Catarina empreendiam ataques, de tempos em tempos, contra os índios, aqui chamados de "gentio bravo" ou "caboclos".
A 4 de fevereiro a expedição deixou o Brasil — "país dos mais admiráveis e riquíssimo" — como a ele se referia Langsdorff, ajuntando: "A lembrança de minha permanência permanecerá indelével para toda a vida". A 6 de maio, o "Nadiejad", em que viajava Langsdorff, passou pela ilha de Páscoa,