A expedição do acadêmico G. I. Langsdorff ao Brasil, 1821-1828

chegou às ilhas Marquesas e demorou-se dez dias em uma das baías de Nukahiva. Aproveitando, na ilha, os serviços de um marinheiro francês, Cabri, que ali vivia feito selvagem (e cujo retrato foi pintado pelo admirável artista Orlovsky e aposto ao livro de Langsdorff), este último conseguiu de modo surpreendente, neste breve espaço de tempo, conhecer muito da vida e dos hábitos dos singulares habitantes da ilha. Os dados recolhidos então permanecem para sempre como uma rica fonte de informações sobre os nativos da ilha, que se achavam quase totalmente privados de contatos com nossa chamada civilização. Isso torna essas informações extremamente valiosas.

Langsdorff fez uma apreciação minuciosa da tatuagem e apresentou uma série de desenhos de diferentes tipos de adornos, que ele explicou, em grande parte, de acordo com os nomes dados pelos nativos às coisas indicadas (rostos, pessoas, etc.). Descrevendo as construções, manifestou espanto ante a pequenez das aberturas nelas existentes, observando que este fenômeno não podia "ser explicado" pelo desejo de proteger-se contra o frio, que é como "se explica", entre os povos do Norte, a pequena dimensão de suas portas. A antropofagia dos Nukaguivanos provocou nele reflexões melancólicas: "O homem tende eternamente a destruir seus semelhantes; por toda parte ele é brutal e cruel de nascimento. Os sentimentos afetuosos e ternos de cordialidade e amor, de carinho mesmo, dos pais para com os filhos e vice-versa, eu, infelizmente, só de raro em raro observei entre as nações incultas e não civilizadas" — dizia ele, ilustrando essa observação com o fato de que era muitíssimo fácil comprar crianças nukaguivanas a seus pais, por qualquer bagatela. Causou-lhe assombro que os selvagens não ocultassem seus hábitos canibalescos, nem se envergonhassem deles: "Nossas paixões se detêm nas fronteiras da razão, da delicadeza de costumes e particularmente da religião. Quando não existe esta última, nem há consciência, então o homem não passa de um bruto e, neste estado primitivo, é capaz de tudo, inclusive das ações mais terríveis, sem mesmo ter consciência de que pratica o mal".

Com a estreiteza desses pontos de vista, sem um estudo realmente científico da natureza humana, Langsdorff pagou um tributo a seu século. Mas essa estreiteza quase não refletia o conteúdo de suas observações. Langsdorff compôs um vocabulário