"Um fervor cego pelas ciências naturais, promessas numerosas e repetidas de toda a ajuda possível aos objetivos científicos, consequentemente as mais risonhas perspectivas e minha paixão pelo conhecimento, talvez também um desenvolvimento especial do "órgão da vagabundagem", de que fala Gall (5) Nota do Tradutor — tudo isso constrangeu-me a abandonar o navio expedicionário do senhor capitão Kruzenxtern e acompanhar o senhor Riezanov às costas norte-ocidentais da América".
Adiante descreve ele como a deficiência de alimentação e a inutilidade do caçador que lhe deram como ajudante forçaram-no a dedicar quase todo o seu tempo a procurar subsistência na caça a pássaros e animais selvagens, em canoas alentianas.
Durante a estada em Sikta, Langsdorff conseguiu visitar as povoações de cóloches e transmitir interessantes informações a respeito deles. Causou-lhe especial surpresa o hábito da dilatação do lábio inferior por meio de batoques de madeira, obrigatórios nas mulheres. As jovens, na idade de 13 a 14 anos, perfuram o lábio, passam pela abertura um fio grosso, depois o substituem por uma rodela de madeira. O orifício gradualmente se dilata de tal modo que, afinal, cabe nele, encurvada, uma tabuazinha, semelhante a uma colher de sopa, e às vezes também de maiores dimensões.
Diz Langsdorff: "Quando eu fazia a natural pergunta sobre a utilidade real desse adorno, que parecia ser tão incômodo, acontecia sempre ficar sem resposta. Sem falar em vários outros hábitos absurdos e ridículos de tantas nações altamente civilizadas e sem querer compará-los uns aos outros — não teria eu todo o direito de perguntar: por que as nobres chinesas consideram belo fingir-se destituídas da possibilidade de livre movimento? Por que as senhoras japonesas pintam os dentes de preto? Por que não se inventaram ainda meios de limpeza do nariz que não implicassem conduzir as mucosidades no bolso? Por que nós, ao querermos apresentar-nos em traje de gala, cobrimos os cabelos com uma leve camada de farinha?"