Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

desejo de liberdade, diante, enfim, do que havia de mais contrário ao antigo sistema da Europa continental.

No dia seguinte (33)Nota do Autor era tudo alegria na cidade. O grande salão encheu-se de novo de pessoas ansiosas por assinar o juramento da constituição; sucediam-se luminárias, fogos de artifício e foguetes. Na Ópera levou-se à cena o Henrique IV de Puccito, em homenagem ao Rei. Mas estava ele muito fatigado com os acontecimentos dos dois últimos dias e quando se ergueram as cortinas do camarote real apareceram somente os retratos do rei e da rainha. Foram, porém, recebidos com fortes aclamações, como se as pessoas reais estivessem presentes.

Assim é que uma importantíssima revolução se processou sem derramamento de sangue e quase sem perturbações. A junta ocupou-se seriamente com os negócios da constituição e começou a publicar alguns decretos altamente favoráveis ao povo e, entre outros, um que garantia a liberdade de imprensa.

Por esse tempo a Bahia, movida pelos mesmos sentimentos que o Rio, havia antecipado a revolução naquela cidade. A 10 de fevereiro a tropa e o povo reuniram-se na cidade, convocaram as autoridades para jurar a adesão à nova ordem, formou-se um governo provisório e convocaram-se tropas para a manutenção da constituição, caso a Corte do Rio se opusesse à sua adoção. Nelas, a mais avançada era um pequeno corpo de artilharia formado de estudantes dos diferentes estabelecimentos da cidade. O novo governo em breve começou a manifestar o desejo de não mais se subordinar ao Rio e não reconhecer outra autoridade senão a das Cortes de Lisboa. Uma comunicação do que se passara na Bahia foi imediatamente enviada a Luís do Rêgo em Pernambuco. Este reuniu as autoridades, a tropa, o povo a 3 de março, no Recife, e ali, juntamente com eles, jurou solenemente aderir à constituição, medida que causou satisfação geral. Pelo mesmo