Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

Mas os membros da assembleia reuniram-se de novo a 22. Muitos deles não tinham título legal para estar presentes, e começaram por propor a detenção dos navios preparados para a volta do rei a Portugal. Alguns chegaram a ponto de propor um exame dos navios a fim de impedir a exportação da imensa riqueza que se sabia estar a bordo. As cousas afinal assumiram um aspecto tão alarmante que Sua Majestade revogou o consentimento dado à resolução de 21 e mandou um corpo do exército para intimidar a assembleia. Infelizmente, uma ordem partida de algum comando, que nunca se soube qual foi, ou nunca se identificou, fez com que os soldados atirassem contra a Bolsa, onde os eleitores inocentes e inermes, e os demais ali apinhados, talvez com intenções menos puras, estavam reunidos confiantes na convocação régia, feita através do juiz do distrito. Cerca de 30 pessoas foram mortas, muitas ficaram feridas e toda a cidade se encheu de consternação indescritível. A ordem de parar tão repentino e cruel ataque sempre se atribuiu ao príncipe Dom Pedro, que, nesta como em outras ocasiões, bem mereceu o título de Defensor Perpétuo do Brasil. O próprio ataque, talvez injustamente, foi atribuído ao conde dos Arcos por uns, a outras autoridades por outros, conforme o partido ou paixão que despertava a suspeição. A verdade é que parece ter sido o resultado de ordens mal compreendidas, dadas apressadamente em momento de alarme, pois é impossível pensar, por um momento, que um homem qualquer pudesse voluntariamente irritar tão cruelmente o povo no mesmo momento em que tanto se dependia de sua tranquilidade. Este acontecimento chocante, porém, parece ter apressado a resolução do rei de deixar o Brasil. Nesse mesmo dia ele passou a direção do país a um governo do príncipe com um conselho composto do conde dos Arcos, primeiro ministro; do conde da Louça [de Louzã], ministro do interior e do brigadeiro Canler [Caula], ministro da Guerra. No caso da morte do príncipe a regência ficaria nas mãos da princesa Dona Maria Leopoldina.

No dia seguinte o rei dirigiu-se publicamente às tropas, recomendando-lhes fidelidade à Coroa e à Constituição