Primeiro veio Tritão, montado como dantes; depois um séquito de deuses marinhos ou mordomos, vestidos de estopa e de esfregões, mas com os braços e ombros de fora, recobertos de tinta. Netuno, de tridente e coroa, tendo Anfitrite a seu lado e o filho aos pés, apareceu num carro puxado por oito cavalos marinhos e guiado por um deus do mar. Seguia-se um cortejo composto de juristas, barbeiros e pintores. O préstito estava bem vestido e ia em procissão. Era tão pitoresco como qualquer antigo triunfo ou cerimônia religiosa. As belas formas de alguns dos atores impressionaram-me extraordinariamente. Nunca vi mármore mais belo do que algumas costas e ombros então expostos. A vestimenta curiosa para imitar os peixes com saias de algas, que todos haviam adotado, levaram-nos séculos para trás, para o tempo em que tudo isto era religião.
Depois de andar em volta do tombadilho, de uma conferência com o capitão e de uma libação sob a forma de um cálice de aguardente, no qual o deus e a deusa rivalizavam em devoção, a brincadeira começou. Era preciso fazer a barba de brincadeira ou pagar uma taxa para que os candidatos fossem admitidos às boas graças do pai aquoso; e enquanto ele fiscalizava o negócio, todo o resto das pessoas do navio, oficiais ou não, começou a batizar-se mutuamente e sem piedade. Nenhum, a não ser as mulheres, escapou e, estas mesmas, por se refugiarem na minha cabine. O oficial de quarto, as sentinelas, os quartéis-mestres e os que eram absolutamente necessários para vigiar o navio são naturalmente considerados sagrados, de modo que alguma ordem ainda se conserva. Parecia realmente que a loucura dominava, mas, no momento marcado, 11 e meia, tudo cessou. Ao meio dia todo o mundo estava a postos, os tombadilhos secos e o navio restituído à boa ordem do costume. Todos os nossos oficiais de carreira jantaram conosco e envaidecemo-nos de ter terminado o dia tão alegremente como o havíamos começado.(41)Nota do Autor