História econômica do Brasil; 1500-1820

menos com menor perfeição, e largueza, das oficinas necessárias, e com pouco número de escravos, para fazerem como dizem, o engenho moente e corrente.

E porque algum dia folguei de ver um dos mais afamados, que há no recôncavo à beira-mar da Bahia, a quem chamam o engenho de Sergipe do Conde; movido de uma louvável curiosidade, procurei no espaço de oito, ou dez dias que aí estive, tomar notícia de tudo o que o fazia tão celebrado, e quase rei dos engenhos reais."



O senhor de engenho

Quando trata do cabedal que há de ter o senhor de um engenho real:

"O ser senhor de engenho é título, a que muitos aspiram, porque traz consigo, o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal, e governo; bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do reino. Porque engenhos há na Bahia, que dão ao senhor quatro mil pães de açúcar, e outros pouco menos, com cana obrigada à moenda, de cujo rendimento logra o engenho ao menos a metade, como de qualquer outra, que nele livremente se mói; e em algumas partes ainda mais que a metade.

Dos senhores dependem os lavradores, que tem partidos arrendados em terras do mesmo engenho, como os cidadãos dos fidalgos; e quanto os senhores são mais possantes, e bem aparelhados de todo o necessário, arfáveis, e verdadeiros, tanto mais são procurados, ainda dos que não tem a cana cativa, ou por antiga obrigação, ou por preço que para isso receberão.