História econômica do Brasil; 1500-1820

e desgostos, em seu favor a sentença. Nem deixe os papéis, e as escrituras que tem na caixa da mulher, ou sobre uma mesa exposta ao pó, ao vento, à traça e ao cupim; para que depois não seja necessário mandar dizer muitas missas a Santo Antônio, para achar algum papel importante que desapareceu, quando houver mister exibi-lo. Porque lhe acontecerá que a criada, ou serva tire duas ou três folhas da caixa da senhora, para embrulhar com elas o que mais lhe agradar: e o filho mais pequeno tirará também algumas da mesa, para pintar caretas, ou para fazer barquinhos de papel, em que naveguem moscas, e grilos, ou finalmente o vento fará que voem fora da casa sem pernas."

E, como esses, de envolta com ensinamentos técnicos, segue-se toda a ordem de conselhos paternais:

"Aos feitores de nenhuma maneira se deve consentir o dar couces, principalmente nas barrigas das mulheres, que andam pejadas, nem dar com pau nos escravos, porque na coleira se não medem os golpes, e podem ferir mortalmente na cabeça a um escravo de préstimo, que vale muito dinheiro, e perdê-lo. Repreendê-los, e chegar-lhes com um cipó às costas com algumas varancadas, é o que se lhes pode, e deve permitir para ensino."



América portuguesa

Rocha Pitta, na Historia da America portuguesa (1750) resume a economia do engenho:

"A cana (planta comum a toda a América portuguesa) se cultiva em sítios próprios para a sua produção, que se chamam massapês; uns em terra firme, outros em ilhas. Estendida se mete na terra e dela vão brotando olhos, que crescendo entre as suas folhas, parecem à vista searas de trigo. Quando estão sazonadas, e pelo conhecimento dos lavradores perfeitas, de 18