Se, na conquista e na ocupação de todo o continente sul-americano, se registram passagens atrozes, quanto aos sofrimentos infligidos aos aborígenes e aos africanos, não é também pequena a lista do martirológio dos brancos, em seu afã de procurar riquezas ou de colonizar as novas terras.
Os naufrágios, os assaltos dos aborígenes, as hostilidades do meio, as privações e doenças tropicais, agravavam sobremodo o coeficiente da mortalidade dos que vinham tentar a vida do Novo Mundo.
Acrescente-se ainda uma longa relação de missionários religiosos, que aqui se sacrificaram.
A escravidão no Brasil
Já expusemos os motivos de ordem política que levaram Portugal a cuidar seriamente das terras de Santa Cruz. Vimos os fundamentos econômicos, em que tiveram de apoiar-se os lusitanos para assegurar uma ocupação definitiva da terra, numa fase em que em outras regiões ainda predominava um mercantilismo sem peias. Não é sem razão esta observação de Gilberto Freyre: "Considerando o elemento colonizador português em massa, não em exceções como Duarte Coelho — tipo perfeito de grande agricultor — pode dizer-se que seu ruralismo no Brasil não foi espontâneo, mas de adoção, imposto pelas circunstâncias. Para os portugueses o ideal teria sido não uma colônia de plantação mas outra Índia com que israelitamente comerciassem em especiarias e pedras preciosas; ou um México ou Peru donde pudessem extrair ouro e prata. Ideal semita. As circunstâncias americanas é que fizeram do povo colonizador de tendências menos rurais ou, pelo menos, com sentido agrário mas pervertido pelo mercantilismo, o mais rural de todos: do povo que a