e viscondes sem conta. Desde logo, com tão perverso oficialismo que se derramou pelas capitanias, renasceu com estranho vigor a antiga corrupção e a venalidade dos magistrados e funcionários, e parecia-se voltar àquele tempo em que frei Manoel do Salvador dizia serem quatro caixas de assucar as bastantes para vergar a vara da justiça".
A consequência disso tudo foi uma indisciplina generalizada a infiltrar-se nas diversas camadas sociais, inclusive as forças armadas, e que se traduzia em perenes divergências e contínuas discórdias e desordens.
Era tão precária a autoridade desse rei absoluto, que as tropas portuguesas no Brasil, junto dele, não lhe obedeciam. Por ocasião da revolução constitucionalista de 1820 em Portugal, não só essas tropas aderiram ao movimento, como obrigaram D. João a baixar um decreto (26/2/1821) em que "se comprometia a aprovar e fazer cumprir a constituição da Junta Revolucionária de Lisboa", e isso depois de reunidas revolucionariamente no Largo do Rocio.
Foi nesse meio que se educou e cresceu D. Pedro, imperador primeiro do Brasil, conjunto de predicados opostos, incoerente hoje, consequente amanhã, impulsivo agora, cavalheiresco daqui há pouco, boêmio incorrigível, o mais desabusado e indisciplinado dos príncipes. Era um temperamento pronto sempre a reagir a qualquer imposição que se lhe quisesse fazer. Quando explodia em cólera nada o detinha porque perdia a faculdade de raciocinar. Tornava-se nessas ocasiões brutal e incapaz de compreender as consequências dos atos reprováveis que praticava.
E foi ao influxo desse homem que se realizou a independência do Brasil.
Aconselhado ou não por D. João VI a que cingisse a coroa do Brasil, ele só se resolveu a isso porque as cortes portuguesas o reduziram a simples capitão-mor