Restabelecida a ordem e desejoso de prosseguir a política de guerra à tenaz e implacável inimiga da sua pátria, procurou Amilcar modificar a constituição do seu povo de modo a concentrar em si maior soma de poderes para reunir os recursos capazes de vencer a infatigável rival. Foi porém vencido pela politicagem, sempre odienta dos oligarcas do senado, onde os interesses egoístas preponderavam impatrioticamente sobre os interesses da coletividade, que mais cedo ou mais tarde teria que desaparecer às mãos dos romanos cuja política de então tinha como principal objetivo a grandeza de Roma e o império do mundo.
Estava no poder o partido contrário aos Barca do qual era chefe Hannon, o irredutível inimigo da grande família de patriotas e insignes generais. Amilcar, coagido a deixar Cartago, resolveu combater os romanos na Espanha. Annibal, seu filho, tinha apenas nove anos de idade e pediu insistentemente a seu pai que o levasse consigo. Este o atendeu e levando-o junto a um altar onde fazia sacrifícios aos deuses, fê-lo jurar ódio eterno aos romanos.
Amilcar submeteu quase toda Espanha, revelando aí como na Sicília as qualidades militares que o sagraram grande capitão e a inexcedível atividade que ainda uma vez justificou o cognome com que passou à História — relâmpago — segundo uns — raio — segundo outros.
A morte de Amilcar — uma felicidade para os romanos — no dizer insuspeito de Tito Livio, elevou ao governo da Espanha e ao comando do exército seu genro Asdrubal, que prosseguiu a política do sogro nas conquistas por ele encetadas.
Por essa ocasião o novo general em chefe solicitou ao senado o regresso de Annibal, então em Cartago, à Espanha. Hannon, o implacável inimigo dos Barca, opôs-se ao pedido e em odioso discurso que proferiu no senado procurou denegrir a reputação