As forças armadas e o destino histórico nacional

No Império, após os motins e revoltas dos primeiros decênios da independência, a união sagrada das províncias formava uma cadeia de elos indestrutíveis, a qual se perpetuaria pelos tempos em fora, se persistisse a forma de governo. Embora com imensa maioria de analfabetos, havia em todas as classes sociais, mesmo nas mais desfavorecidas em dotes intelectuais, uma acentuada noção de pátria e consequentemente um arraigado patriotismo que mantinha intangível aquela união sagrada, os homens ainda os mais rudes conservando no coração e no espírito embrionário uma respeitosa admiração pelo Imperador.

Decretada a Abolição, centenas de milhares de indivíduos são atirados ao léu da vida, sem o menor indício de capacidade para se orientarem, sem guias, sem força de vontade, sem quaisquer diretivas e objetivos, inaptos para qualquer ação que os integrassem na comunhão social e os levassem a qualquer espécie de trabalho profícuo e remunerador das suas atividades. Eram centenas de milhares de homens e mulheres a perambular no país sem a menor noção de sociabilidade, de cooperação, de solidariedade, de qualquer coisa útil e proveitosa.

Os fazendeiros em geral, viram-se empobrecidos de um momento para outro, sem os escravos, nos braços dos quais exerciam o melhor das suas atividades e dos quais tiravam o custeio das fazendas e o sustento da prole. Educados e empedernidos no seio do trabalho escravizado, sem outra noção de economia a não ser essa, despojados abruptamente da vergonhosa propriedade que era a sua razão de existência, impotentes quase todos para iniciarem uma nova ordem de trabalho que lhes compensasse o prejuízo, passaram a viver dos parcos recursos que lhes restaram, indiferentes à sorte do trono e da nação.