À Margem do Amazonas

pelos furos assustando a fauna que foge alvoroçada em busca dos tesos.

E por toda parte, empolado, crescente, tenaz, lança como estranho molusco gelatinoso as formidáveis antenas.

A várzea vai-se transformando num ermo gelado, encharcado, morto; e na aterradora desolação desse ermo cresce, soturnamente, o mudo pavor da água grande dos silvícolas — água sinistra, que afoga a terra e sufoca sem piedade toda a alegria e toda a vida.

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Ainda corre o mês de maio, ainda está longe esse dia de São João, que marca o limite da enchente — e já o talude esbarrondado, roído pelo rio túmido, vai desaparecendo tragado aos palmos em cada noite.

Nas terras mais baixas, onde viceja o aningal, as águas elevam-se, alastram-se como vastas manchas de azeite desdobrando-se nas ravinas e deixando na gleba conquistada montículos de galhos secos, touças informes de capim, detritos esparsos onde se amontoam irriquietas as terríveis formigas de fogo.

Ilustração: tipo de moço de Parintin
Imagem: Tipos de embarcação