A caudal sobe mais, numa lentidão mortificante, ameaçadora como um flagelo inevitável.
Nas pobres roças dos moradores desabam tristemente gramíneas e leguminosas, pendidas para o chão enlameado e arrastadas no enxurro da invernada.
E como amargo prenúncio de catástrofe se vê, nas nesgas estreitas das restingas — derradeiros refúgios de um caos em perspectiva — animais assustados, esquecidos dos próprios instintos de ferocidade, agrupados, unidos, numa promiscuidade nunca vista, como que assombrados diante daquele deserto líquido onde tudo vai morrendo em mergulhos funestos.
Não há uma parada, um momento de interrupção, um armistício, naquela impetuosa avançada. O rio soberano não investe em catadupas trovejantes, não escachoa, não ruge, não se despeja em borbotões demolidores. Arfa, sobe, dilata-se, distende os longos braços mortíferos, contornando, bloqueando as restingas.
Os dias vão passando nessa asfixiante expectativa, no temor da alagação, no angustioso receio das terras caídas reboando na solidão