À Margem do Amazonas

com arrogante destemor. Andam ali, nessas paragens perigosas, um lúgubre sopro de morte, uma atração funesta de abismo, vertigens de sorvedouros que surgem e se escancaram em funis devoradores. Uma inquietação indefinível apodera-se do viajante, que mal pode conter o pavor de ser arrastado e triturado no turbilhão fremente das águas.

É nesses momentos que o índio, em geral da numerosa tribo dos Macuxys, assume as proporções de divindade protetora. Sereno, silencioso, impassível, à proa da embarcação, observa a desesperada correnteza, prevê o espoucar dos rebojos, adivinha o momento em que se escanocaram os funis, perfura com o olhar astuto a água que ruge, pressente a pedra submersa que arrombaria a canoa.

E dirige as manobras, mudo, atento, firme, insensível à angústia dos que o contemplam.

É assim o silvícola que se aproxima do civilizado: humilde, bom, submisso, sofrendo o desamparo das leis e a impiedade dos homens.

Os outros, os que se deixaram ficar nas fronteiras, na terra acidentada dos contrafortes; vivem alegres, nus, altivos, irredutíveis.