O Vale do Amazonas

o vexam, estragam e amedrontam. Trabalha rudemente, mas é explorado e roubado, é perseguido e infamado. "Desde que se lhes pague regularmente o salário, 12$000 a 20$000 por mês, em mercadorias quase sempre (dizia-me o Sr. Sepeda, estimável proprietário de Tagipurú no Pará), não me faltam para tripular canoas, e para o serviço da lavoura de cana de açúcar e farinha. Tenho índio que vive e trabalha comigo há 10 e 15 anos sem nunca abandonar-me. São os índios, acrescentava, de uma fidelidade exemplar; nós lhes entregamos às vezes centos de arrobas de borracha que conduzem a capital, e volvem com o preço em ouro ou papel, às vezes três, cinco e mais contos de réis."

A legislação em vigor sobre os índios, sua catequese e aldeamento, propunha-se um fim proveitoso: regularizar o trabalho; mas produziu o que se não devia esperar, a espoliação do índio. O diretor de índios é o seu ladrão oficial. A portaria de nomeação de diretor, dizia-me um antigo navegante do Solimões, é uma carta de crédito; com ela o novo diretor apresenta-se ao negociante da cidade, pede um abono de mercadorias, sob promessa do pagar com o produto do trabalho dos índios, que colhem a borracha, a salsa, a castanha, e recebem do diretor uma insignificante parcela das mercadorias abonadas. O índio não percebe salário em dinheiro: a permuta de gêneros é o meio de roubá-los.