inspirar-nos nas tradições de um passado memorável. Em questões que interessam à liberdade, reconhecida e consagrada outrora, mas aniquilada hoje, imensa força tem o partido que clama pela restauração das leis mutiladas. Se faltassem exemplos, o da Hungria contemporânea patentearia a vantajosa posição de um povo que exige, em nome do direito antigo, não em nome somente da teoria política, o restabelecimento de suas instituições esmagadas.
A doutrina liberal não é no Brasil fantasia momentânea ou estratagema de partido; é a renovação de um fato histórico. Assim considerada, tem ela um valor que só a obcecação pode desconhecer. Como a França voltando-se agora para os princípios de 89, nós volvemos a um ponto de partida bem distante, o fim do reinado de Pedro I; queremos, como então queriam os patriotas da independência, democratizar nossas instituições.
É tempo! De sobra temos visto uma nação jovem oferecer aos olhos do mundo o espetáculo da decrepitude impotente. Na América, onde tudo devera de ser novo, pretendem que o despotismo se perpetue perpetuando a centralização. O que somos nós hoje? Somos os vassalos do governo — da centralização. Ouçamos o que à sua pátria dizia em iguais circunstâncias o autor da Democracia na América.
"Algumas nações há na Europa, escreve Tocqueville, onde cada habitante considera-se uma espécie de colono indiferente ao lugar que habita. Sobrevêm as maiores mudanças no seu país sem o seu concurso; não sabe mesmo precisamente o que é passado; tem disso apenas uma vaga ideia; por acaso ouviu ele referir-se o acontecimento. Ainda mais: a prosperidade da sua povoação, a polícia da sua rua, a sorte da sua igreja e do seu presbitério, não lhe importam; cuida