A Província - Estudo sobre a descentralização no Brasil

Do seio do povo não contaminado ainda, surgem às vezes os regeneradores das nações aviltadas: mas quão difícil não é esta gestação dos Philopoemens, e quão inútil quase sempre para suspender o curso dos maus dias! Se um largo período permitiu ao veneno insinuar-se lentamente por toda a circulação, já não haverá mais (na frase de um publicista) «nem dedicação desinteressada, nem coragem cívica, nem generosas indignações contra a violação do direito, nem simpatia pelos oprimidos e desgraçados: o menor encargo público parecerá insuportável, aterrará o mais leve ruído ; ninguém interessar-se-á pelo mal que lhe não toque direta e pessoalmente; juízo apelidar-se-á esse estreito e ininteligente egoísmo».

Considerai agora o lado propriamente político dessa vasta questão, que mal podemos esboçar. Dispensando, contendo ou repelindo a iniciativa particular, anulando os vários focos da atividade nacional, as associações, os municípios, as províncias, economizando o progresso, regulando o ar e a luz, em uma palavra, convertendo as sociedades modernas em falanstérios como certas cidades do mundo pagão, a centralização não corrompe o caráter dos povos, transformando em rebanhos as sociedades humanas, sem sujeitá-las desde logo a uma certa forma de despotismo mais ou menos dissimulado. Por isso é que, transplantada do império romano, a centralização cresceu com o absolutismo nas monarquias modernas e com ele perpetuou-se em todas, tirante a Inglaterra. Por isso é que não pode coexistir com a república uma semelhante organização do poder. Assim, absolutismo, centralização, império, são, neste sentido, expressões sinônimas.

Em monarquia centralizada pouco importa, portanto, que se haja feito solene declaração dos direitos

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