A Província - Estudo sobre a descentralização no Brasil

cujo maior título de glória é supôr-se o melhor método de administrar um país. Transformado o funcionalismo em polícia dos comícios, "a administração deixa de ser o meio de distribuir com justiça e discernimento os recursos do Estado; ela consagra-se exclusivamente à tarefa de conquistar e conservar maiorias no parlamento: todos os interesses ficam subordinados a este interesse (5)Nota do Autor". Os variadíssimos gêneros de corrupção, os mais miseráveis e os mais hediondos, se ostentam à face do sol. Trata-se de escolher altos funcionários? Preferem-se os mais ágeis, os mais audazes na arte de manipular os sufrágios. Quanto às pequenas funções públicas, são negaças ou prêmios. Nem respeito a merecimentos e virtudes, nem zelo pelo bem público, nem amor à glória nacional. Raras vezes o orçamento deixa de ser desequilibrado ou falsificado pela suprema necessidade de corromper para viver.

Não menos arriscada do que monstruosa é essa "apoplexia no centro e paralisia nas extremidades", de que falava Lamennais. A centralização — quem pode já duvidá-lo? — não desvia, antes precipita as tempestades revolucionárias. Absorvendo toda a atividade nacional, assume o poder uma responsabilidade esmagadora. Corrompendo a nação, corrompe-se a si mesmo; mais e mais inferior à sua tarefa ingente, vê recrescerem os perigos na razão da sua debilidade. É o réu de todas as causas perdidas; é o autor suposto de todas as desgraças; a miséria doméstica, a ruína pública, lhe são atribuídas; e a história não raras vezes confirma a indignação dos contemporâneos. Deixemos, porém, falar um autor, outrora entusiasta

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