A Província - Estudo sobre a descentralização no Brasil

Por si só, mal pode o governo central acudir a este ou aquele mais ardente reclamo; e por cada um que satisfaz ou ilude, vê recrescer a impaciente exigência de todos os outros. Não lhe resta, portanto, mais que uma solução: dividir a sua formidável responsabilidade, invocar o auxílio do município e da província para a obra comum da prosperidade nacional; em uma palavra, descentralizar.

Não, não é isto abdicar; é, pelo contrário, fortificar-se, e habilitar-se, aliviado de um ônus excessivo, para o pleno desempenho da grande missão que ao Estado compete em nossa imperfeita sociedade.

Essa grande missão de liberdade e progresso não se circunscreve à perseverança no aperfeiçoamento da legislação, à implacável energia em moralizar o governo; compreende também a tarefa de acelerar a obra da civilização. Caminhos de ferro, navegação, telégrafos, agentes físicos do progresso moral, são meios infalíveis de fortalecer ou de consolidar a união das províncias, afrouxando os odiosos laços da centralização.

Como escurecer a imensidade do erro de um governo que, desdenhando da sua missão própria, tão grandiosa, tão nobre, há consumido trinta anos em luta aberta contra as liberdades do cidadão e as franquezas da província? Como não exprobrar-lhe a cegueira de uma política que, rejeitando o caminho que o levava a ele à glória, e o Brasil à prosperidade, preferiu trilhar obstinadamente a rota batida dos príncipes europeus? Como não embargá-lo na marcha vertiginosa em que prossegue, bradando-lhe:

Vós perdeis o país, perdendo-vos! Vós o arremessais de novo nas crises revolucionárias!

A Província - Estudo sobre a descentralização no Brasil - Página 366 - Thumb Visualização
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