O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em 1819

conhecimentos não permitem fazê-lo com a perfeição que teria desejado. Também juntei as duas cartas celestes prometidas, com as convenientes, anotações.

Espero em breve o prazer de receber carta de ti, em que me ponhas a par do que tens feito e do que se passa em nossa querida pátria. Acredita que também eu, deste novo mundo, continuo o amigo de todo coração.

L.



Décima sétima carta

Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1819.

Não te zangues querido amigo, guardião que és há tanto tempo dos meus mais recônditos segredos, que somente hoje volte a te falar de mim. Entrei de certo modo numa vida nova, que, queira Deus, só com a morte venha a terminar. Mas, antes que nela ingresse, deixa-me dar uma olhada sobre o passado; talvez recolha eu alguma lição para o futuro, talvez te explique alguma faceta de meu caráter ou da minha conduta que te haja ficado até agora obscura. Revivendo recordações, nossos corações, pelo menos, reconhecerão mais claramente o que foram um para o outro até agora e o que precisarão ser até o fim.

Três anos terão brevemente passado desde que pela primeira vez te avistei entre estranhos; meu coração já não é mais insensível.

Lembro-me vivamente do momento em que, correndo a vista pelos rostos que se achavam em torno de mim, deparei com o teu. Encontramo-nos e, pelo teu primeiro olhar, convenci-me de que era a expressão de uma alma igual. Tantas vezes contrariam as convenções humanas as leis da natureza quando a alguém está reservado ser feliz nesta terra através da amizade! Foi o nosso destino, do primeiro instante em que nos conhecemos. Persuadi-me da verdade de que a amizade não é somente uma criação da fantasia, mas parte integrante do nosso ser, quando este encontra o verdadeiro objeto do seu amor. Sem reciprocidade, contudo, dificilmente poderá ela ser duradoura sobre a plataforma da sua fragilidade. Tanto mais feliz me considero e tanto mais sincera e ardente é a gratidão