O Rio de Janeiro visto por dois prussianos em 1819

do meu coração ao destino, por me ter sido dada esta felicidade que milhares buscam em vão! Cada dia cresce-me a convicção de que esta amizade está selada para a eternidade. Jamais, porém, o senti em tão alto grau quanto agora, que me vejo afastado das doçuras do ambiente pátrio — ainda que por pouco tempo — sem um coração masculino que me compreenda, abandonado a mim mesmo...(3) Nota do Prefaciador

L.



(Neste tom inflamado prossegue a carta, que interessa maiormente ao psicanalista, mas, por retratarem a personalidade do autor, foram traduzidos os primeiros parágrafos, destacando-se a seguir a única referência ao Brasil, melhor dito, a seus habitantes: "esses bastardos da raça humana sobre os quais a natureza, para fazê-los aceitáveis aos olhos do mundo, derramou seus encantos com indizível amor").



Décima oitava carta

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1819

Hoje, caro Egmont, fiz um longo passeio pelas montanhas e vi a cidade de diversos pontos que oferecem as mais imponentes visões. As ruas planas, mas muito estreitas, cortam-se quase todas em Angulos retos. São mal pavimentadas, mas têm calçadas dos dois lados para pedestres, sendo as casas de dois a três andares. Não há edifícios dignos de nota: os principais estão perto do porto, na rua Direita e na rua do Ouvidor (sic). O Palácio Real, lindamente situado e habitado mais pela família do que pelo rei propriamente, está longe de ser majestoso. Pode apenas ser comparado a uma casa grande das nossas. O número de igrejas é considerável, às vezes ricas por dentro, mas decoradas sem gosto, Além das públicas, existem capelas privadas em quase todas as melhores casas, em que as famílias ouvem a missa na intimidade, tendo para este fim seu próprio capelão. Festas religiosas diárias e procissões semanais